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POESIA DE EMÍLIA FREITA SOBRE A ANTIGA UNIÃO, HOJE JAGUARUANA.

 

 

A VILLA UNIÃO

 

A igreja primeiro de longe se avista,

A margem esquerda do rio ela fica;

Sem ser pitoresca tem muitos encantos;

Não é miserável nem chama-se rica.

 

Mas vê-se, nas várzeas que as águas alargam

Depois das enchentes, os grandes cercados,

Aonde s’encontram dispostos em filas

Os pés de algodão, bonitos florados!

 

Durante o inverno na verde campina

O gado... as ovelhas e cabras pastando

Reunem-se as vezes ao pé da lagoa

E a sede que trazem vão n’ela apagando.

 

No pau da porteira ou trepado ao mourão.

A tarde o pastor costuma a aboiar

E as vacas correndo, buscando o curral

Começam saudosas de longe a urrar.

 

 

Ai! Vejo tal como nos tempos passados

As casas que ausência tão triste deixou:

Aquela onde os dias passei em brinquedos

A outra onde em breve morreu meu avô.

 

Ali ensaiei os meus sonhos poéticos;

Ali despontou esta amena alvorada;

Tiveram começo quimeras que aspira

Infância risonha, feliz, amimada.

 

Mas, nunca uma vez passou-me por mente

Lembrança que um dia viria a chorar

Por todas as coisas, que outrora nem via,

Talvez esquecidas a um canto do lar!

 

Que as tristes imagens erguidas do pó,

Viriam falar-me dos anos felizes,

Que tinham a calma das águas da fonte,

Do prado florido os claros matizes.

 

O sol declinava, na tarde em que fomos

Dizer um adeus saudoso e sentido

Aos santos lugares do triste jazigo

Onde as cinzas ficavam de Pai tão querido.

 

Entramos tremendo no largo portão...

Buscando seu nome na pedra singela;

Bem junto do muro, caiada de branco,

Eu vi sua campa confronte a capela.

 

 

Ali de joelhos orando em silêncio

A Mãe, que era todo meu bem neste mundo,

Esteve cercada dos tenros filhinhos

Às vezes soltando suspiro profundo.

 

Voltamos cobertos de luto e de dor!

A noite era escura qual meu coração!

O galo cantou, fizemos viagem,

Deixamos os campos da bela – União.

 

(EMÍLIA FREITAS, 1891: 51/52)

 

 

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