4:37 AM POESIA DE EMÍLIA FREITA SOBRE A ANTIGA UNIÃO, HOJE JAGUARUANA. |
A VILLA UNIÃO
A igreja primeiro de longe se avista, A margem esquerda do rio ela fica; Sem ser pitoresca tem muitos encantos; Não é miserável nem chama-se rica.
Mas vê-se, nas várzeas que as águas alargam Depois das enchentes, os grandes cercados, Aonde s’encontram dispostos em filas Os pés de algodão, bonitos florados!
Durante o inverno na verde campina O gado... as ovelhas e cabras pastando Reunem-se as vezes ao pé da lagoa E a sede que trazem vão n’ela apagando.
No pau da porteira ou trepado ao mourão. A tarde o pastor costuma a aboiar E as vacas correndo, buscando o curral Começam saudosas de longe a urrar.
Ai! Vejo tal como nos tempos passados As casas que ausência tão triste deixou: Aquela onde os dias passei em brinquedos A outra onde em breve morreu meu avô.
Ali ensaiei os meus sonhos poéticos; Ali despontou esta amena alvorada; Tiveram começo quimeras que aspira Infância risonha, feliz, amimada.
Mas, nunca uma vez passou-me por mente Lembrança que um dia viria a chorar Por todas as coisas, que outrora nem via, Talvez esquecidas a um canto do lar!
Que as tristes imagens erguidas do pó, Viriam falar-me dos anos felizes, Que tinham a calma das águas da fonte, Do prado florido os claros matizes.
O sol declinava, na tarde em que fomos Dizer um adeus saudoso e sentido Aos santos lugares do triste jazigo Onde as cinzas ficavam de Pai tão querido.
Entramos tremendo no largo portão... Buscando seu nome na pedra singela; Bem junto do muro, caiada de branco, Eu vi sua campa confronte a capela.
Ali de joelhos orando em silêncio A Mãe, que era todo meu bem neste mundo, Esteve cercada dos tenros filhinhos Às vezes soltando suspiro profundo.
Voltamos cobertos de luto e de dor! A noite era escura qual meu coração! O galo cantou, fizemos viagem, Deixamos os campos da bela – União.
(EMÍLIA FREITAS, 1891: 51/52)
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